O Ser em Aristóteles (Categorias e livro XII da Metafísica): uma introdução.

A inserção de Aristóteles no cenário da discussão sobre o Ser foi laboriosa. De um lado estavam os Materialistas, de outro os Idealistas, os dois maiores grupos que se atiraram na missão de investigar o que é aquilo que é verdadeiramente. Aristóteles não desconhecia, de toda forma, o aspecto áspero da discussão filosófica e para desenvolver sua própria teoria geral do Ser, teve que antes achar um meio de entrar em cena. Ele lançou mão então do que era um senso comum na época: a substância sensível.

Tanto para os materialistas, quanto para os idealistas, a substância sensível era (no sentido de ser). Para o primeiro grupo, materialistas, a substância sensível era mais, aliais só as coisas materiais eram. Para os idealistas, como Platão, as coisas materiais também eram, porém em grau menor do que as coisas da substância não sensível. Aristóteles então entra pelo meio, abrindo um terceiro caminho para o estudo do ser.

Tratando apenas da substância sensível no tratado Categorias, ele responde a pergunta inicial (o que é aquilo que é?) com o Tode Ti. Para ele, na sua juventude, o que “é” é o Isto, o indivíduo. Sendo ele a substância mais importante, pois nada existiria sem o individuo, ele o chama de substância primeira, e por consequência estabelece como substância segunda tudo o que é dito dele, mas não está nele. Aristóteles define as características da substância no tratado Categorias, dentre estas características a que mais chama atenção é a VI que diz que a substância admite contrário. Esta afirmação excluí momentaneamente a possibilidade de haver outra substância que não sensível, pois,  no aristotelismo, a substância não sensível não pode sofrer corrupção, ela é eternamente o que é. Doutro modo, se sofresse corrupção, ela mudaria e se mudasse seria da mesma natureza da substância sensível. Ficando assim excluída um segundo tipo de substância que não seja a sensível, tal como a substância é definida no tratado Categorias.

Aparentemente um pouco depois de ter escrito o tratado Categorias, Aristóteles escreve outro tratado regional, desta vez, porém, acerca da substância não sensível. Neste tratado, que foi incorporado à Metafísica, livro XII, ele introduz a ideia do Primeiro Motor (TO PRÔTON KINOUN). Este é o principio movente de todas as coisas, que só é comum às substâncias sensíveis por analogia e mantém uma ligação com o domínio não sensível, porque, a parte dos primeiro motores sensíveis, encontra-se o Primeiro Motor de tudo, inclusive destas (não sensíveis). O Primeiro Motor aristotélico é então uma substância não sensível que preside o universo inteiro, o que chamou também de Deus. Ele condiciona a posição dos motores imóveis, que por sua vez, numa definição simplória, agem sobre as substâncias sensíveis. O objetivo de Aristóteles neste tratado era unir intrinsecamente o domínio sensível ao não sensível. Neste objetivo ele fracassa. Porém consegue formar um todo, quando afirma que tanto a substância sensível quanto a não sensível estão suspensas pelo Primeiro Motor, a ideia de Ertetai. Até aqui, então, ele não conseguiu formular uma doutrina geral do Ser, uma ciência comum a tudo que é.

Lucas Vargas.

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